O peruano Vargas Llosa, que se diz surpreso com o NOBEL de Literatura.
EFE
Nobel finalmente premia peruano Vargas Llosa, que se diz surpreso
Vargas Llosa foi escolhido para a láurea por sua "cartografia das estruturas do poder e apuradas imagens da resistência, rebeldia e derrota do indivíduo", segundo a decisão divulgada nesta quinta em Estocolmo.
O secretário permanente da Academia Sueca, Peter Englund, ampliou posteriormente a breve justificativa do prêmio e ressaltou que o peruano é "um narrador que desenvolveu a arte da narrativa de uma forma extraordinária".
"Pode ser visto em sua produção que é um homem apaixonado. E foi a reação de uma pessoa apaixonada; ficou muito, muito feliz e muito emocionado", disse Englund, referindo-se à reação do escritor - que estava em Nova York ministrando aulas na Universidade de Princeton - ao ser comunicado por telefone do prêmio.
Em entrevista telefônica concedida à agência sueca "TT", Vargas Llosa, de 74 anos, admitiu estar "muito surpreso" e confessou que não esperava a honraria nem sabia que a premiação seria este mês.
"Achava que tinha sido completamente esquecido pela Academia", contou Vargas Llosa, que disse ter ciência de que seu nome tinha sido especulado "há muitos anos", mas sem saber "se era a sério ou não".
A nomeação causou surpresa também em Estocolmo, já que Vargas Llosa não figurava nos primeiros lugares da lista de supostos candidatos para suceder a romeno-alemã Herta Müller, inesperada premiada do ano passado.
Os nomes mais citados na capital sueca e nas casas de apostas eram os do romancista americano Cormac McCarthy, o queniano Ngugi wa Thiong'o e vários poetas, como o sírio Adonis e o sueco Tomas Tranströmer.
Vargas Llosa era um eterno candidato ao prêmio, da mesma forma que outros "pesos pesados" da literatura mundial, como o americano Philip Roth, o israelense Amos Oz e o italiano Claudio Magris, nomes que aparecem todos os anos nas apostas.
Embora a Academia Sueca assegure que sempre premia autores individuais, e não países nem correntes literárias, especula-se que Vargas Llosa era prejudicado por ser enquadrado no denominado "realismo mágico" latino-americano, que já havia sido reconhecido com o Nobel em 1982, com o colombiano Gabriel García Márquez.
"Fiquei muito surpresa. Claro que Mario Vargas Llosa é um dos maiores escritores da América Latina, um gigante. Mas se falou muito pouco dele nos últimos anos. Parece que (o prêmio) chega um pouco tarde", declarou Eva Beckman, chefe de Cultura da televisão pública sueca "SVT", durante a transmissão do anúncio.
A opinião de Eva é a mesma da imprensa sueca, que avalia, sem contudo questionar a decisão da Academia, que o momento do peruano havia passado.
Nesse sentido, a edição digital do "Svenska Dagbladet" falava em "grande escolha", enquanto os tablóides "Expressen" e "Aftonbladet" a classificavam de "magnífica".
Nascido em Arequipa (Peru) em 1936, Vargas Llosa teve uma infância movida pela separação temporária de seus pais, o que o fez mudar-se para Cochabamba, na Bolívia, de onde retornaria ao Peru já com dez anos de idade, primeiro para Piura e depois para Lima. Na capital peruana o escritor foi educado em uma escola católica e, mais tarde, enviado ao colégio militar Leoncio Prado.
Suas experiências pessoais nesta instituição foram a base de "A cidade e os cachorros" (1963), o livro que tornou internacionalmente famoso o escritor, que estudou Direito e Literatura em Lima e em Madri e que viveu em várias capitais europeias.
"Conversa na Catedral" (1969), "A Guerra do Fim do Mundo" (1981) e "A festa do Bode" (2000) são alguns dos títulos de destaque da carreira premiada hoje com o Nobel da Literatura, que vai acompanhado de 10 milhões de coroas suecas (1,1 milhão de euros ou US$ 1,5 milhão) e que ele mesmo receberá em Estocolmo em 10 de dezembro, segundo anunciou a "TT".
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